quarta-feira, 17 de outubro de 2007

1986. Um bom começo...






"Existem perguntas a serem feitas e chegou a sua hora de fazê-las. Aqui nesta Fortaleza de Solidão tentaremos encontrar as respostas juntos.

Então, meu filho,...

...fale."

Não, não sou melancólico e nem tenho tendências suicidas.
Este título para meu blog pareceu-me tão inevitável quanto o dia após a noite. Acredito agora ter sido eu o escolhido por ele, e não o contrário...
Para entender bem do que diabos eu estou falando vamos voltar um pouco no tempo até o ano de 1986.

Estava eu então com 8 anos. O dia era um sábado, se não me engano do mês de abril. Talvez maio.
Acordei cedo. Bem cedo. Estava agitado. Nada hiperativo. Agitação para mim não passava de um bocejo mais longo acompanhado de um roer de unhas, nada demais.
Sentei na porta da cozinha, no chão. Meu pai, a quem só via aos sábados e domingos estava comendo pão em pé, na pia. Ele sempre fazia isso e até hoje eu não sei por quê diabos ele não pegava um prato e se sentava. Minha mãe começou a fazer meu Nescau ( tenho um nojo desse troço hoje em dia...). E a primeira coisa que eu disse foi:
_"Hoje vai passar Superman!"


É... eu tinha 8 anos, já usava óculos e era gago desde que pronunciei meu primeiro fonema. Sociabilização nunca foi meu forte. Nada de amigos, nada de futebol ou pipa, nada de escoriações, hematomas ou luxações, nada de uma rotina inocente que na adolescência pudesse ter me tornado um traficante famoso ou um jogador de futebol milionário comedor de dançarina de grupo de pagode. EU ERA UM NERD.
A exibição não de um filme do Superman mas DO filme do Superman para mim era, sim, motivo de comemoração e insônia desde fevereiro, quando a Rede Globo anunciou a estréia do "SuperCine", que se daria naquele sábado com a exibição do filme do meu herói favorito.
Morávamos num apartamento de 2 quartos. Uma televisão. Monitor preto e branco. Eu não me importava afinal nunca tinha tido TV à cores, e o mantra lá de casa era: "Não temos dinheiro para nada." Até hoje entro em transe com essa frase...


Então meu pai disse:
_"Seria legal se pudéssemos pintar a televisão, não é?"
As piadas bobas de meu pai eram assim. Eu nunca lutei contra elas. Sempre foi mais fácil tentar rir, talvez sorrir e nada mais...mesmo com a bochecha revoltada querendo se retrair sozinha...
Depois do café, meu pai saiu e ai meu sábado começou:
TV - Desenhos de manhã
TV - Seriados do meio-dia
TV - Desenhos da tarde


Quando meu pai chegou, trazia consigo uma caixa enorme das "Casas Garçom". Por quê diabos uma loja de Eletrodomésticos tinha o nome de "Garçom". E com "m" no final...
Perguntei o que era, ele respondeu dizendo "panelas pra sua mãe"...
Tocando meu sábado estava, tocando meu sábado continuei...


Eu sei, eu sei...vamos parafrasear o irascível Harvey Pekar agora?
"Por quê as pessoas são tão estúpidas??"


Ah, qual é...eu tinha 8 anos, gago, míope, nerd e meio tapado. Tá bom, muito tapado. Depois da piadinha besta do café da manhã era só somar dois e dois e chegar ao "Panela é o kct, é uma TV nova!"... Mas eu nunca tive vocação pra gênio, mesmo com as notas que tirava na escola....


E era uma TV nova. Minha primeira televisão à cores.
Naquela noite eu assistiria ao "Superman - O filme" (IN COLORS).
Eu adoro contar essa história. Acho que é um dos poucos momentos felizes de minha infância que ainda me lembro.
E uma das poucas coisas boas que posso falar de meu pai. Não que ele fosse um mau pai. Não era violento, não era bêbado, não era vergonhoso...
Acho mais fácil falar tudo que meu pai não era do que falar o que ele realmente era. Hoje em dia tenho certeza que sobre mim, ele fala o mesmo.
Com a ausência de um pai, tive que buscar outros exemplos masculinos a seguir. E aquele que mais me identifico até hoje, aquele que me ensinou todos os parâmetros de certo e errado foi o Superman. A mitologia do personagem. A criação no Kansas por um fazendeiro, a opção por ser um simples anjo da guarda ao invés de um ditador ou um deus vivo.

Isso me faz refeletir:
O que será que sou para minhas filhas?
Um anjo da guarda? Um super-herói? Um general ditador?


Ou será que sou simplesmente um espectro de meu pai??


Talvez eu não consiga responder essa pergunta. Talvez eu tenha medo de procurar a resposta. Talvez ainda seja mais fácil dizer tudo o que eu não sou.


E sei que, caso eu não seja algo que elas admirem, uma TV colorida não resolverá nada. 

Talvez um I-pod...ou, em breve, um MP27...



Fortaleza da solidão. Será o meu cantinho de reflexão sobre as coisas da vida, sobre as coisas que curto e onde todos meus amigos serão muito bem-vindos.


Prepararei resenhas e críticas de filmes e quadrinhos e usarei este espaço para divulgar meus trabalhos, e falar sobre coisas que penso e tenho vontade.


Visitem-me sempre.


E como o meu ídolo diria:
"Para o alto...e avante..."
























Ah...mais uma coisa...lembram que eu disse que eu tinha acordado BEM CEDO naquele dia...pois é...dormi o durante o filme...rs...fazer o quê, assisti na reprise seis meses depois...

Um comentário:

celia disse...
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